Tuesday, May 29, 2007

Diário público

Naquele lugar, só a gente sabia ser feliz. Era fácil, até. Quatro paredes, uma cama, tantos sonhos e realidades e aquele janelão que trazia as coisas lá de fora. Nada perturbava a perfeição. O calor não atrapalhava. Nem o Natal, que chegava. Nem o piano do vizinho, tecla por tecla. Nem o fim iminente. Nem o amor. Nada, nada, nada. Os sorrisos eram muitos, os arrepios tão naturais como o quente vento noturno e a gente mal sabia que aquele lugar estava fadado ao nosso sucesso. Só nosso. As lembranças do quarto nos pertencem tanto quanto os segredos que criamos naqueles lençóis, ao ouvirmos o dó-re-mi solitário e distante, ao nos perdermos sem medo do fim, ao bater do relógio. O tempo parou num instante que durou um verão inteiro. A gente só sabia ser feliz naquele lugar, meu bem.

1 comment:

Anonymous said...

Adorei.