Wednesday, May 30, 2007

Desencontro

Me disse que queria me ver. Ou era ter e eu nem notei? Queria estar comigo, bater um papo, tomar um café. Fazer filhos, talvez. Riu. Sequer entendi o resto, tão ocupada em ouvir as crianças chorarem no nosso futuro familiar.

Encontro

Ele é um gato. Poderia chamá-lo de AS e escrever linhas românticas e sem fundamento. Roubaria idéias de JA, WW, TJ e, claro, AC. Faria declarações de amor ao desconhecido AS, em nome da poesia, apoiada em Platão – a quem jamais chamaria de P. Relembraria nosso café-da-manhã no Garcia & Rodrigues (GR?), em mesas separadas mas com olhares encontrados. AS lia os jornais do dia, prestava atenção na minha conversa e no meu decote com sorriso maroto e sacana. AS sabe olhar um decote com polidez e interesse. Furtou sorrisos meus, que eu disfarçava fingindo que eram pra minha interlocutora AM, que mal percebeu meu flerte. Muito discreto ou até invisível foi nosso encontro. AS e eu esperamos o momento certo e depois o deixamos passar pra podermos viver desta possibilidade duvidosa que foi o nosso caso de amor. LG e AS, eternamente separados pelo rigor de nossas próprias construções sobre o amor à primeira vista.

Tuesday, May 29, 2007

Romance privado

27/05
O verão já acabou há meses. E tá pra acabar de novo.

Diário público

Naquele lugar, só a gente sabia ser feliz. Era fácil, até. Quatro paredes, uma cama, tantos sonhos e realidades e aquele janelão que trazia as coisas lá de fora. Nada perturbava a perfeição. O calor não atrapalhava. Nem o Natal, que chegava. Nem o piano do vizinho, tecla por tecla. Nem o fim iminente. Nem o amor. Nada, nada, nada. Os sorrisos eram muitos, os arrepios tão naturais como o quente vento noturno e a gente mal sabia que aquele lugar estava fadado ao nosso sucesso. Só nosso. As lembranças do quarto nos pertencem tanto quanto os segredos que criamos naqueles lençóis, ao ouvirmos o dó-re-mi solitário e distante, ao nos perdermos sem medo do fim, ao bater do relógio. O tempo parou num instante que durou um verão inteiro. A gente só sabia ser feliz naquele lugar, meu bem.

Monday, May 28, 2007

Desorganize-se

O vento quente me levou ao Arpoador pra ver a lua cheia. Era tão clara a noite que nem parecia dia de finados; tava mais pra carnaval. Na beira das pedras, umas crianças magras brincavam no mar, levando caixotes propositais e rindo um riso gostoso que ecoava nos prédios e voltava pra eles em forma de quero-mais. Queria que aquela fosse a minha memória de infância. Talvez eu devesse incorporá-la às minhas lembranças construídas, assim como o soltar pipa com que sempre sonhei.

Organize-se

“Estou desorganizada porque perdi o que não precisava?(…) É difícil perder-se. É tão difícil que provavelmente arrumarei depressa um modo de me achar, mesmo que achar-me seja de novo a mentira de que vivo.”

C.L. em Paixão Segundo G.H.