Friday, September 28, 2007

Allegro

Um dia eu chego lá.

"Allegro (italiano para alegre) é um andamento musical leve e ligeiro, mais rápido que o Allegretto e mais lento que o Presto. Nos metrônomos, o Allegro costuma situar-se entre 120 e 168 batidas por minuto."

Andante Grazioso

A gente sempre acha que é Fernando Pessoa.

-Ana C.

Adagio

Tem que ir aos poucos, pianinho, num ritmo lento mas em movimento. Essa é a melhor forma; dizem.

Wednesday, September 26, 2007

Rascunho

Querida V.

Escrevi um email pra você mais cedo, mas acho que você ainda não leu - uma vez que não respondeu. Então escrevo pra complementá-lo com algumas outras sensações que me vieram durante o dia, enquanto eu digeria as idéias da nossa conversa de ontem. Toda a ironia que existiu na noite de ontem me fez rir muito. Que volta a vida deu em torno dela mesma. E transformou as novas pessoas em pessoas antigas com novos penteados. Riu de mim, o meu destino. Quantos planos eu fiz sobre viver novidades, sobre meu presente-futuro; e daí o passado vem e me surpreende. Mas tudo bem, no fundo achei engraçado e pude me divertir às custas de minha própria frustação neste momento. Hoje há mais motivos pra rir e eu te escrevo com a melhor das intenções otimistas: quero mesmo é dizer que eu sinto muito a sua falta, mas que eu vivo tranqüilamente com a sua ausência. Vou pegar a ausência pra mim, de presente, pra segurar no escuro e sentir você perto de mim, inspirada em C.D.A. Como é bom contar com a poesia nesses momentos, não é? Em todos os momentos, aliás, que besteira achar que é só agora que ela importa. Sempre importa, sempre importou. Importará.

Não precisa responder o email, só ter escrito já me fez bem.

Beijos com saudade assimilada
L.

Tuesday, September 25, 2007

Corporate

Dentro dos vidros que deixam o frio seguramente lá fora, junto com os aviões que passam quase-pousando, ela se isola da cidade. Fica o zumzumzum de um lado, ela do outro. As contas com muitos dígitos na planilha gritam por realidade mas ela ouve baixinho, baixinho, ao longe. A realidade dela é cada vez mais distante, num tempo passado e desprotegido. Pode ser que ela se acostume à ausência dos elementos vivos, sépticos, cheios de rachaduras e erros de percurso. E no futuro ela olhe tudo isso com grande pavor e pense que a melhor qualidade do presente é a certeza de que um ventinho não vai derrubar as folhas no chão. Elas já estão paralisadas, betamente alaranjadas, naquele chão cheio de lembranças e maresia.

Thursday, September 20, 2007

em 21/08

O diário não é mais escrito, as crianças louras cresceram e deixaram de ser louras, o mirante da Gávea foi desativado. Mas a noite continua longa e Cecilia mantém sua piedosa lírica.

Tuesday, September 18, 2007

Estação República

Imagino se eles ainda estão lá porque eu tô longe daquilo. E daqueles.

Monday, September 17, 2007

Estação Anhangabaú

O vagão pouco ocupado sinaliza que já é tarde. Ninguém espera pelo trem. Ele vai parando aos poucos, fazendo barulho com seus freios pra chamar a atenção dos possíveis passageiros. A estação está vazia.

De dentro dele, ela percebe o silêncio do lado de fora. O trem pára completamente. As portas abrem e revelam o casal, do lado de fora. Encostados na última pilastra da plataforma, eles se olham com intensidade. Abraçam-se e beijam-se com discrição apaixonada. Sorriem pros próprios sorrisos. Outro trem mais cheio chega e descarrega seus passageiros na pequena ilha formada pelos dois trilhos.

Há barulho; as pessoas movem-se com pressa, as portas fecham, o trem inicia seu novo trajeto. Ela acompanha, como num travelling com trilha incidental, o casal se perder em seus olhares, alheios à tudo, dentro do enquadramento das janelas sujas. Os cabelos brancos se destacam no meio da multidão e ela os vê até entrar no túnel.

O apaixonado casal de idosos continua amando-se na ilha deserta, com direito a palco, público e entrada gratuita no Anhangabaú.