Sunday, August 05, 2007

Dia

Cheia de domingos-domingo, ela ouve Tom Waits enquanto tenta estabelecer sentido nas palavras. Sente-se incompleta. O piano marca mas é o contra-baixo que a leva até ele. Procura a saída do sonho que construiu- como a moça cantou, antes de revelar o cansaço de limpar a sujeira dele. A fumaça fechada no bar já matou as flores há muito tempo mas ela ainda pergunta se o seu fim estaria mesmo próximo, naquelas cortinas de veludo vermelho cheias de histórias veladas que esperam para velar a dela também. Talvez já tenha acabado, uma vez que o passado não a assusta; é parte integrante dela, assim como a última palavra que escreveu. O ponto final ainda é futuro, ela sente como se tivesse uma última certeza. Quando os domingos-domingo passarem, quando ela se curar de sua depressão dominical aguda, será que continuará sentindo o grave vibrar da corda levantando-a da cama, adocicando o gosto da solidão? Domingos-domingo foram criados por ela, são seu método, sua satisfação gloriosa, sua fuga consciente ao interior das palavras perdidas, das emoções imprecisas, da inconseqüente fragmentação estabelecida como fundamento. Não há mágica, golpe de mestre, macumba, esquema, jeitinho. Não há segunda-feira que resista à ausência de domingos-domingo.

2 comments:

Anonymous said...

que lindo! ouvi a voz rouca do waits.

Anonymous said...

Eu não tenho domingo. Mas também não tenho sexta-feira. Droga!